Blog sobre filmes

Agora também vou publicar textos sobre filmes que gosto no blog abaixo. Se gostar, me segue.

https://sensesin35mm.wordpress.com/

Estou pronto

Esses dias escrevi num post no facebook: “Quando paramos de procurar pela felicidade, a vida se encarrega de nos mostrar onde se esconde a esperança.”

É muito curioso porque só quando começamos a desistir e a pensar que nada mais importa, que a vida vai continuar monótona, sem tempero, sem balanço… o baile recomeça, e parece que ainda não estamos prontos pra dançar novamente.

As luzes cantarolam, o falar ganha cores, o ouvir destila sabores e odores, tudo parece arrepiar, inebriar, sonhar…

É maravilhoso e ao mesmo tempo assustador porque, invariavelmente, lembramos do que não deu certo, do que falhamos. Sim, ‘falhamos’ porque o que não deu certo também é nossa falha.

Mas isso já não importa. O tempo levou para debaixo das pedras do esquecimento todas as mágoas do passado, e com elas todos os meus temores. Sim, já estou pronto. Estou tremendo de medo, mas estou pronto. Preciso estar pronto, porque meu tempo é tão curto e tão precioso, que qualquer chance que eu tenha de ser feliz vale o risco.

A esperança acena com a bandeira da ternura e eu, já entorpecido, aceno de volta com um sonho, um desejo singelo e plácido. Aqui estou felicidade, esperando-te de braços abertos, alma lavada e mente livre. Vem!

Natal de 2016

Pensei muito no que iria escrever esse ano como mensagem de Natal e confesso que muita coisa passou pela minha cabeça. Postar um vídeo de música natalina cantada pelos Carpenters, David Bowie, Bing Crosby, Elvis Presley… tanta gente gravou música de natal, postar um texto de algum escritor, uma imagem… Mas daí, pensei: 2016 foi um ano importante pra mim. Um ano de decisões difíceis, de recomeços, de alegrias e tristezas. Foi um ano que, decididamente, me mudou como pessoa.

Cresci muito nesse ano. Desconstruí conceitos, idéias e identifiquei meus preconceitos. Me reconstruí por dentro e por fora, me fortaleci, ampliei meus repertórios, meus pensamentos, meus valores, minhas crenças. Nada foi fácil, mas cheguei ao final do ano vivo e querendo viver mais, algo que algum tempo atrás me era difícil querer. Por muitos anos me considerei um perdedor, alguém que não tinha ousado ser, estar, fazer. Não me permiti muitas coisas durante muito tempo, mas entendi e aceitei que já não era mais possível deixar de lado o que eu sentia no meu íntimo, não poderia mais suportar não tentar ser feliz novamente.

Quem me conhece sabe que sou Cristão, mas não sou católico nem evangélico. Não pratico uma religião, tenho apenas a fé. Uma fé me diz que se Ele morreu por mim numa cruz, não foi para que eu desistisse no meio do caminho. E acredito que em cada religião existente no mundo, há um messias, um profeta, um ser iluminado que ensinou os mesmos preceitos nos quais acredito: respeito, amor, compaixão, empatia, liberdade, igualdade.

Então, minha mensagem para todos os amigos de tantas mídias e redes sociais que participo é: ouse, acredite, permita-se, seja, faça, aconteça, viva! Eu acredito em você. Acredite também.

Para quem é de Natal e também para quem não é, que esse momento seja iluminado de esperança, de paz, de solidariedade, de alegria, de amor. E que 2017 traga tudo o que você buscar e tudo no que acreditar.

Abraço em tod@s.

 

As metades de mim

Metade de mim é paixão, a outra metade solidão.
Metade de mim é amanhecer, a outra metade anoitecer.
Metade de mim é quase nada, a outra metade é mais que tudo.
Metade de mim tem sede, a outra metade se farta em lágrimas.
Metade de mim quer viver plenamente, a outra metade se esconder de repente.
Metade de mim é apenas metade, a outra metade o todo inteiro.
E cada metade de mim se completa e se alterna no oposto perfeito de sua complexidade.
Porque metade de mim quer amar sem limites e a outra metade quer ser amado sem pudores.

2016-18-11-11-07-452016-18-11-11-08-44

Há poucas horas assisti Star Trek: Sem Fronteiras e, invariavelmente, muita coisa passou pela minha cabeça, aliás minha vida quase inteira foi revisitada em paralelo ao filme. Espera, eu explico.

É que diferente da maioria do público, relativamente jovem e entusiasmado, que assiste à novíssima versão dessa franquia, eu tive o privilégio de viver nos anos 70 e curtir a série original desde seu início numa TV preto e branco de tubo. Depois, já na década de 80 vieram os filmes de cinema, e então a nova série para TV a cabo, as séries derivadas etc… Sentiu o peso?

Então, ver Jornada nas Estrelas hoje, qualquer que seja a versão, me remete a muitas lembranças. Algumas muito alegres como meu primeiro contato com a ficção científica, outras muito amargas como a perda de meus dois melhores amigos de infância aos 40 e poucos anos, amigos esses que compartilhavam do mesmo carinho e entusiasmo pela série e com os quais vi os primeiros filmes para cinema.

Impossível não lembrar dos sonhos de infância de querer ser astronauta ou cientista. Mais ainda não recordar cada conversa que tive com ambos amigos após cada filme, cada insight, cada opinião pessoal… Tenho saudade. Acho que era a única pessoa na sala de cinema chorando a cada precioso momento recordado.

Mas não é só a parte da ficção que impressiona e que atrai em Star Trek, é também a filosofia de vida que seu criador, Gene Roddenberry, instilou na série e que permanece até hoje: uma sociedade baseada na igualdade de direitos, que não visa acumulação de riqueza material mas benefício social, intelectual, psicológico, profissional e pessoal de cada indivíduo através de sua contribuição para esta mesma sociedade. Parece até propaganda comunista, mas é melhor, porque não fala de ‘capital’, nem de ‘dinheiro’, nem de ‘exploração’, nem de ’empresa’, nem de ‘revolução’, nem de ‘religião’… aqui todos são iguais, tudo é democrático e tudo é grátis.

E a diversidade que a série sempre mostrou? Afinal temos protagonistas de diversas raças, origens, culturas, crenças, sexualidades, enfim uma verdadeira harmonia interplanetária, ou melhor, intergalática. Enquanto isso, voltando à realidade, num pequeno planeta de um pequeno sistema solar de uma das milhões de galáxias que existem neste universo (obrigado, Cortella), as pessoas ainda são preconceituosas com praticamente tudo.

É muito triste ver que uma expressão artística propõe um mundo melhor enquanto que várias religiões que dizem basear-se em amor, fraternidade e solidariedade estão a entoar cânticos de ódio aos diferentes, aos excluídos, aos que são diversos ou simplesmente trans.

Isso é o que me deprime mais sempre. Ver que não mudamos. Dizemos que praticamos o bem baseado num princípio ou crença, mas se sairmos de casa atrasados ou após uma discussão com algum familiar, paramos para xingar o primeiro a cruzar nossa frente. Deixamos de dar bom dia por chegar atrasado ao emprego. Criamos caso no almoço por que o bife não estava ao ponto. Jogamos fora a comida só porque esfriou.

Esquecemos que o outro somos nós mesmos, em outro dia, quando somos xingados, ou quando não nos cumprimentam ao chegar. Esquecemos que para ter o bife, um animal foi abatido após uma vida de confinamento e tristeza, em favor de um negócio rentável. Esquecemos que em algum lugar do mundo alguém está morrendo de fome naquele exato momento. Esquecemos até que somos infelizes, e se olharmos bem o bastante para nós mesmos frente ao espelho, não nos reconhecemos mais, não nos importamos mais.

Eu mesmo me vejo como parte desse mundo doente e deprimente. Por vezes me comporto de forma errada, notando apenas depois que já fiz minha parte no grande erro da humanidade: a intolerância e o descaso. É doloroso perceber o que nos tornamos depois de repetidas experiências amargas, decepções, mágoas, medos, indiferença, esquecimento… O coração vai se endurecendo, contrariando um provérbio russo que diz que o coração não é de pedra.

Há horas que me pergunto por quanto tempo iremos continuar nesse pesadelo sem acordar. Quanto tempo ainda ficaremos sem enxergar no outro – sendo este humano ou animal – um igual, um ser vivente, e portanto com o mesmo direito de viver plenamente e ser feliz.

Silvana Duboc escreveu algo bem pertinente sobre a felicidade e sobre os aspectos do viver feliz.

“Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!”

Alguém há de me perguntar, mas e os animais? Como garantir que sejam felizes? Basta que os deixemos viver suas vidas naturalmente. Como disse James Oliver Curwood em seu livro The Grizzly King: “A maior emoção não é matar, mas deixar viver.

Sobre o amor

O mestre perguntou ao discípulo:
– O que acontece contigo? Estás desatento, rindo à toa e inquieto. Acaso estás bêbado?
Ao que o discípulo responde:
– Estou amando mestre.
O outro retruca:
– Amor não é isso. Isso é paixão. Só volte aqui quando sentir uma dor profunda, não antes disso.
Passam-se dias e um ano e meio se completam até que o discípulo retorne:
– Mestre, estou de volta porque a dor é grande em meu peito.
E o mestre:
– Perdeste a quem ama?
– Não. Ainda estamos juntos, mas quando não estamos a dor é imensa. E a simples possibilidade de perda me deixa desnorteado e triste.
O mestre:
– Ainda sim o que sentes é a paixão, mas já está mais calma porque o amor está tomando conta. E essa dor se chama saudade. Só volte quando a dor passar por completo.
Passam-se 10 anos até que o mestre é visitado por outro mestre, antes discípulo.
– Mestre, estavas certo. A dor se calou em meu peito e veio a serenidade. Tudo é calmo e plácido. Penso que isso é o amor, não é?
Ao que o mestre responde:
– O amor é tudo que passaste ao lado de quem repartiste este sentimento nesta vida. Pode ser um amor de amigo, um amor de mãe ou pai, um amor de filho, um amor de cônjuge. A paixão também é amor, mas é impetuosa e perversa, quer tudo pra si. Já o amor é liberdade, é paz, é felicidade. E mesmo a saudade, no amor é confiança e esperança de rever a quem amamos.
Intrigado, o discípulo pergunta ao mestre:
– Mas porque sentir tanta dor logo de início se o amor é tão calmo e simples e belo? Não compreendo.
E o mestre:
– Porque sem a dor não irias notar o amadurecimento desse sentimento. Sem a dor, poderias achar que aquele sentimento era algo normal, comum; enquanto que o amor verdadeiro é algo extraordinário, divino e único. Quem nunca se permitiu sentir essa dor, nunca amou realmente.

Ontem não houve bolo. Não houve festa. Não houve entrega de presentes. Não houve visita em casa.

Fui sim visitado virtualmente pelas pessoas que conheci ao longo de 53 anos bem vividos – talvez não vividos como gostaria que fosse – mas cujo percurso não mudaria pois me ensinou muito da vida.

Talvez pela falta do bolo, da festa e dos presentes, me dei conta de como sou afortunado por ter tantos amigos. Seja por Whatsapp, Messenger, e-mail ou telefone, as mensagens foram chegando, algumas curtas, outras longas, algumas engraçadas, hilárias; outras emotivas, singelas. Mas em todas senti que estava sendo abraçado. Senti-me querido, senti-me parte de um coletivo, de uma família que se mostra virtual mas que é muito real e palpável. Como não se emocionar?

Depois de ler cada mensagem tentei recordar como foi aquele precioso momento em que cada um havia entrado em minha vida e quais momentos se eternizaram na memória, que infelizmente já não é tão boa. Ri e chorei bastante, como me é peculiar, até porque algumas dessas pessoas estão muito distantes, vivendo uma outra realidade e sinto que será difícil revê-las.

E fazendo um balanço da minha existência até o momento acabei me surpreendendo. O saldo foi tão positivo e tão emocionante que agradeci a Deus por tudo que Ele sempre me deu, não no material, mas em bençãos, em amizades, em amores, em livramentos, em experiências, em emoção, em vida.

Obrigado de coração a todos pelo carinho, pela lembrança, pela interação, pelo abraço presencial ou virtual, por esses momentos de viver que valem tanto. Foi muito especial, principalmente porque ocorreu num ano de muitas mudanças em minha vida pessoal e profissional. Está sendo desafiador, mas me sinto fortalecido para lutar porque tenho amigos, amor, carinho, amizade, esperança e fé. Sou o que sou pelos pais que tive, pelos professores que conheci, pelos amigos fiz e que me apoiaram e criticaram, pelo prazer e pela dor do amor, pela perda, pelo reencontro, pela despedida, pelo recomeço.

Deixo um poema de Ivone Boeachat que gosto muito e parece apropriado lembrar aqui.

“A amizade
é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.

A amizade
é tão forte quanto o amor.
Ela educa o amor,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça
controlando os excessos da paixão.

A amizade
é um forte elo que une pessoas
na corrente do querer.
Amizade
é cola divina,
quando cola demais,
pode doer.

A amizade
tem muito mais
juízo que o amor,
quando ele se esgota
e cisma de ir embora,
ela se propõe a ficar
vigiando o sentimento que sobrou.”

Fim de capítulo

Depois de um longo hiato resolvi voltar ao blog para escrever sobre um tema que deixa muita gente sem dormir: a perda de um emprego.

Estranhamente, eu que fora tão ansioso anteriormente, lamentei mais perder o contato diário com tantas pessoas amigas, interagir sobre temas do cotidiano e por vezes conversar com aquela pessoa mais chegada sobre as angústias e reviravoltas que a vida nos dá.

Dito isso, tenho de reconhecer que durante quase 19 anos de trabalho, aprendi e realizei muitas coisas que jamais pensei fazer e conhecer. Sou muito grato à Bireme por tantas oportunidades de programação, análise de sistemas, análise de problemas, treinamentos, capacitação, tradução técnica, viagens que me proporcionaram conhecer pessoas e lugares incríveis, mas acima de tudo por me dar a oportunidade de manter as amizades que lá fiz apesar do tempo e da distância.

Ao longo desse período, vi partirem amigos queridos, alguns que jamais revi, mas que estão presentes no facebook, no twitter, no e-mail, no whatsapp. Revejo mentalmente as despedidas, os marcos de reencontro, os aniversários, as celebrações de fim de ano, as festas institucionais e lembro de uma época que me senti abraçado, como um filho em uma família.

Mas chega o dia que o filho cresce e precisa tomar seu caminho, descobrir-se, desafiar-se. É como me sinto hoje, um dia após a despedida, um ser em processo de mutação, um redescobrir, um reinventar. E apesar de parecer intimidador ver o mundo todo à frente é, ao mesmo tempo, inspirador por não haver limites impostos, por estar na base da montanha e poder escolher por onde quero escalá-la.

Aos amigos que fiz nesta instituição agradeço de coração por compartilhar seus momentos, suas palavras, seu pensar comigo. Foi e continuará sendo muito enriquecedor sempre.

Ontem, 20 de julho, se foi mais um filhote. Embora com idade de 17 anos creio que se não ficasse doente aguentaria mais uns 10.

O Soneca sempre foi muito ativo, interessado, brincalhão, comilão, comunicativo, inteligente e curioso. Era o relações públicas da casa sempre que chegava alguma visita. Quando gostava de alguém permitia até que lhe agradasse.

Há cerca de seis meses parou de brincar, repentinamente, mas ainda pedia carne e ainda circulava bem pela casa. Há um mês parece que a idade finalmente lhe abateu nos ossos e lhe tirou a vontade de andar e até de pedir comida. Ficava entristecido deitado ou no sofá ou na nossa cama. Ao lado dele, como querendo mimá-lo, além de minha esposa, uma meia irmã (Dominique) que faz parte da primeira geração, aconchegava-se sempre com ele. Às vezes, miava como se dissesse que algo estava errado. Mais de uma vez surpeendi outra irmã bem mais nova lhe fazendo o toilette no rosto e me comovi… principalmente porque ele permitia sem reclamar.

Apesar do vazio e da dor deixados por sua falta, me sinto feliz por poder abreviar seu sofrimento. Há pouco dias tivemos o terrível diagnóstico de PIF – peritonite infecciosa felina, uma doença cruel que faz o gato definhar com fome, sede e dor.

Sinto um misto de raiva e inconformismo, tristeza e pesar, mas ainda sim sou grato a Deus por tê-lo me emprestado para cuidar e amar. O que resta agora, além da lembrança e do amor que senti e ainda sinto por ele, é ver nas fotos que minha esposa tirou, a essência de quem era o Soneca: sua doçura, seu jeito tranquilo, um trinado inesquecível e muita vontade de viver.

Vai em paz filhinho. Um dia, se Deus quiser nos vemos novamente.

As fotos a seguir foram capturadas por Denise Fernandes a quem não tenho palavras para agradecer por manter este registro maravilhoso de nosso filho. Vendo estas fotos constato também que a fotografia somente evolui e encanta quando é feita com amor, dedicação e persistência.

Clique na foto para ampliá-la.

Ontem perdi mais um pedaço do meu coração. Minha princesinha de apenas dois anos e meio perdeu a batalha para uma doença horrível e cruel. A PIF, abreviação de peritonite infecciosa felina, é uma doença causada pela mutação de um coronavirus felino e é fatal. Acomete gatos de 6 meses a 3 anos de idade e pode aparecer também na velhice.

Nunca pensamos que pudessemos passar por isso. É um sofrimento muito grande, psicológico e físico. Preciso colocar minha raiva e inconformismo em palavras porque estou quase explodindo. Não consigo dormir, nem relaxar e não paro de sentir lágrimas brotando a todo minuto. Me pergunto porque? Não encontro resposta nem alento e, de repente, assisto um filme de suspense na TV paga para me distrair e que me passa uma mensagem inesperada e maravilhosa de esperança.

Algumas pessoas diriam que vemos o que queremos. Pode ser, mas havia pedido a Deus para colocar algo no vazio do peito. Algo que acalmasse minha dor e meu desespero. Algo que me fizesse pensar em voltar a viver, voltar a olhar para mundo como se algo inda valesse a pena. Para mim, é uma mensagem Dele, uma resposta, uma esperança. Daí, eu olho pra foto dessa linda menina que Ele me deu pra cuidar e vejo o quanto eu fui feliz de poder agradá-la, cuidá-la e amá-la. Obrigado filhinha. Fica em paz, sem dor, sem doença. Um dia, se Deus quiser, te vejo de novo. Teu papai que muito te ama.

Aquela música

Domingo frio e chuvoso. Um dia para se ficar em casa, mas como ficar se há um show de Jane Duboc no Teatro Décio de Almeida Prado. Um pequeno, mas bem aparelhado e limpo teatro de escola. Ainda bem que ainda existe cultura sendo preservada e mantida.

Mas voltemos ao assunto. Assistir Jane Duboc ao vivo é lembrar de cada fase da minha vida, recordar os amigos que se foram tão cedo, reviver viagens, sonhos, anseios… a certeza de uma vida plenamente vivida. E um show dela jamais decepciona. Ao contrário, ela nos encanta com seu sorriso, sua voz e sua simplicidade.

Jane Duboc Jane Duboc Jefferson Lescovich

Conheci o trabalho da Jane em 1980 durante o Festival MPB Shell com a música Saudade. Depois, vieram muitas outras canções inesquecíveis, marcantes e fortes, porém delicadas como pétalas de flor: Manoel, o audaz; Languidez; Menino; Eu no sol; Mansidão, As criaturas da noite;  Canção da espera, Auto-retrato… só para citar algumas. Ouvir aquela voz aquece a alma. E naquela noite fria foi o que aconteceu, todos fomos aquecidos por uma voz companheira, meiga, suave, serena…

Para os que não conhecem seu trabalho deixo abaixo o link para um pout-pourri onde selecionei alguns trechos das músicas que ela apresentou ao lado do contrabaixista Jefferson Lescovich.

Mais uma vez essa paraense mostra toda a beleza da nossa música, nossa verdadeira música popular: com letra, melodia e ritmo; e acima de tudo com muita paixão pela canção.

Saudade

Hoje minha vida completou um mês sem o Félix. A dor inda não passou mas acalmou um pouco. Foi parcialmente aplacada pela doce lembrança dos momentos que vivi com ele e compartilhamos olhares, carinhos, cuidados… Afinal, 17 anos não são 17 meses.

Penso que o pior inda está por vir, pois o Natal era especialmente importante por seu significado intrínseco e também por ser o mês de seu nascimento. Não consigo imaginar como será este ano sem ele. Não vejo porque fazer uma árvore de Natal se era para ele que fazíamos. E aqui vale uma explicação: observá-lo nos primeiros dias após a montagem da árvore era como olhar para uma criança que tem em seu olhar toda a esperança do mundo.

Repentinamente, a agonia e a dor voltam enquanto escrevo estas palavras, mas se não as escrevesse estaria sendo consumido por elas na mente, porque a memória ainda se lembra dos momentos antes do fim. Lembro do Soneto do gato morto de Vinícius de Moraes, cujas palavras marcam cada perda, cada ausência:

“Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
as selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda,
altas correntes de eletricidade
rompem do ar as lâminas em cinza
numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
um de nós, e ao morrer perde o veludo,
fica torpe, ao avesso, opaco, torto…

Acaba, é o antigato; porque nada,
nada parece mais com o fim de tudo
que um gato morto.”

Novamente, só o que resta é a saudade nas lembranças e nos sentimentos. E súbito percebo que estas marcas, de tão profundas, tornam-se o único laço indelével, indissoluto, inestimável e que nada nem ninguém me pode subtrair.

Poucas coisas doem mais que perder um filho. Na realidade só uma: vê-lo sofrer.

Nosso Félix, companheiro há 17 anos, se foi hoje depois de seis meses de batalha contra um linfoma. Além do prognóstico terrível desta doença, sofreu também com artrose e toda a degeneração que um gato doméstico pode ter aos 17 anos e alguns meses.

Ainda não consegui aceitar que tanto tempo se passou, porque parece que foi ontem que ele chegava para fazer companhia nas tardes solitárias logo após um período de desemprego em 1995.  Dormíamos juntos no sofá depois de brincar um pouco.

Reparo agora o quanto eu tive sorte de tê-lo conhecido e amado, ter aprendido tanta coisa com ele, mas lamento pelos momentos que me ausentei, seja por questões profissionais como viagens ou por motivos pessoais e mesquinhos como as saídas fotográficas que fiz nos últimos dois anos. Parece que o tempo nunca foi o suficiente quando perdemos a quem amamos.

Foi duro chegar em casa e encarar aquela caminha sem ele. Apesar dos seus irmãos virem me receber ao entrar, eu não os via, porque o coração também se esvaziara, se partira.  A casa parece estranha, fria e vazia.

Não é a primeira vez que sinto essa dor, já perdemos a Dília, a Bella, o Jimmy, o Moustache, a Diana, o Freddy, o Fígaro, o Billy… mas o Félix foi o primeiro,  e de certa forma nos confortava quando um ou outro se ia. Parece que nos consolava com seu olhar meigo e sincero. Me pergunto quem irá me consolar agora e quase imediatamente vem um deles se enroscar nas minhas pernas, pedir um carinho, me olhar com aquele mesmo olhar e já sinto que é Deus me mandando um sinal, uma mensagem de que tudo aqui é passageiro e que nada, nem ninguém é nosso.

Procuro pensar que na rua, onde o encontramos em março de 1994, ele não teria durado 5 anos. Penso em todas as vezes que lhe compramos um brinquedo, uma coberta, uma ração diferente, nos quilos de carne que pudemos lhe dar, no conforto, na segurança de um lar onde foi amado… inda sim, continuo angustiado,  sentindo como uma derrota inevitável e infalível do tempo.

Dizem que o tempo cura toda ferida, mas estas que a saudade abre e a dor dilacera, somente Deus pode fechar e lá deixar uma cicatriz, a prova irrefutável do quanto sou ínfimo, patético, mortal e, portanto, humano.

Não consigo dizer ‘adeus’ ao meu filho, somente um ‘até breve’, porque como diz um ditado russo antigo: coração não é de pedra!

Esquecimento

PartidaPrenúncioReminiscências
SolidãoMágoaLampejo

Esquecimento, um ensaio no Flickr.

Há momentos que precisamos nos sentir únicos, sozinhos, inteiros… sem que nada nem ninguém nos ofereça abrigo ou perigo, amor ou ingratidão, o riso ou a lágrima…

Há momentos que a alma se cansa, se perde entre luzes e sombras, se reencontra e sucumbe ao cansaço da vida. Uma miséria da alma, consumida pelos anos, esquecida pelas perdas…

Partir… retomar o caminho e seguir até que a última luz seja generosa e inunde com a verdade o vazio que se fez da morte.

Acabo de voltar do cinema e sinto a compulsão de escrever algo, como que retomando minha proposta de alimentar este blog.

O filme em questão foi Harry Potter e as Relíquias da Morte – parte 2. Para quem não leu nenhum dos livros e começou a curtir o pequeno bruxo já no quarto filme da franquia, ficou um gostinho de quero mais.

A quantidade de informação só revelada no último momento me lembrou das novelas de Janete Clair da década de 70, cuja maestria em esconder as cartas da trama era ímpar.

Ao mesmo tempo que gostei do final, me questiono se foi o mais adequado à saga. A exemplo do Senhor dos Anéis, envolver-se com o mal tem um preço, muitas vezes alto demais.

Se vale a pena assistir? Sim, vale. Em especial pela mensagem deixada nas entrelinhas, talvez mais claras e completas aos que leram os sete volumes sem esmorecer.

Quem sabe um dia eu tenha o tempo necessário para me dedicar novamente aos encantos da literatura, mas no momento me contento com uma tonelada de informação visual e auditiva sendo despejada nessa experiência mágica que somente o cinema pode proporcionar.

No final, esta é a magia. Eu sempre entrarei no enredo, me identificarei com um ou outro personagem, mesmo sabendo tratar-se da ficção mais improvável. Fugirei de minha patética vida humana e ousarei sonhar acordado por pouco mais de duas horas… Até me ouço: -Não, eu não sou um trouxa!

Voltando pra casa lembrei-me que meus dois melhores amigos e companheiros de balada, cinema e teatro se foram aos 40 e poucos anos, sem ver a conclusão de Guerra nas Estrelas, ou a trilogia Senhor dos Anéis e, ultimamente, sem conhecer este mundo mágico de Harry Potter.

Queria que estivessem aqui para saber o que acharam, ouvir algum comentário ácido, uma imitação, um ponto de vista diferente, rir e chorar. Enfim, interagir.

Acho que assim como os personagens de Harry Potter eu também envelheci, e muito, muito rapidamente…